A Perspectiva da Nobel de Economia Esther Duflo

Esther Duflo, ganhadora do Nobel de Economia, desafia mitos sobre pobreza e empreendedorismo, enfatizando a necessidade de políticas fiscais globais e justiça climática.

Equipe LiveMoney

Esther Duflo participou de evento em São Paulo

Esther Duflo, uma das economistas mais respeitadas no campo da pobreza, tem focado grande parte de seu trabalho em questões relacionadas aos ricos e às suas responsabilidades. Em suas palestras e reuniões, como no G20, Duflo destaca a “dívida moral” dos bilionários que, segundo ela, são os maiores poluidores do planeta. Ela defende a criação de um fundo global para combater as mudanças climáticas, enfatizando a “dupla crueldade” do fenômeno: aqueles que mais poluem sofrem menos com seus efeitos, enquanto os menos poluidores são os mais impactados.

Duflo, ganhadora do Prêmio Nobel de Economia em 2019, compartilhou suas ideias em junho durante uma visita ao Brasil, onde explicou como financiar esse fundo. Ela propõe aumentar o imposto global sobre multinacionais de 15% para 21% e implementar uma nova taxa sobre a fortuna das 3 mil pessoas mais ricas do mundo. “Não é porque um bilionário vive na França que seu dinheiro deve ser gasto apenas lá. Eles ganham com vendas e produção global. Esse dinheiro deveria ser visto como pertencente ao mundo,” afirmou em entrevista à BBC News Brasil.

Para Duflo, a reconstrução de áreas devastadas por desastres, como as enchentes no Rio Grande do Sul, poderia ser financiada por esse fundo. Seu trabalho sobre a economia dos pobres continua a fundamentar suas ideias, desafiando mitos sobre o empreendedorismo entre os mais desfavorecidos. Suas pesquisas mostram que fornecer empréstimos a pessoas extremamente pobres para iniciar negócios não resulta em melhorias significativas em suas vidas. “Talvez os muitos negócios dos pobres sejam menos um testemunho de seu espírito empreendedor e mais um sintoma do fracasso das economias em oferecer melhores oportunidades,” escreve Duflo em seu livro “A Economia dos Pobres” (Editora Zahar, 2021).

Atualmente, Duflo é codiretora do Abdul Latif Jameel Poverty Action Lab (J-PAL), professora no MIT e presidente da Escola de Economia de Paris. Em suas entrevistas, ela aborda a necessidade de envolvimento dos ricos na solução dos problemas climáticos e a implementação de políticas fiscais mais justas. Ela também discute o impacto da inteligência artificial no mercado de trabalho e a sub-representação das mulheres na economia.

Sobre as histórias de sucesso de empreendedores pobres, Duflo adverte que elas são exceções e não devem formar a base de políticas públicas. Ela enfatiza que a maioria das pessoas prefere uma vida estável e segura, e que o verdadeiro empreendedorismo é uma característica rara.

Duflo trabalha ao lado de seu marido, Abhijit Banerjee, com quem ganhou o Nobel. Ela vê essa parceria como vantajosa, dado o tempo e a paixão compartilhada pela economia.

Esther Duflo ganhou o prêmio Nobel de Economia em 2019 junto ao marido, o economista indiano Abhijit Banerjee (esquerda)

Esther Duflo prefere que seu legado seja o fortalecimento de um movimento para melhorar a avaliação e o design de políticas públicas para os pobres, independentemente de sua própria notoriedade.

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